APL 179 O Cativo Liberto por N. Sª de Porto Salvo

Na luta contra a mourama, muitos portugueses sofreram as agruras do cativeiro, se não mesmo a morte. O pesar era sentido pelos familiares que, impotentes, quando não dispunham de recursos para o resgate, apelavam à intervenção divina. Assim procedia a Marquesa Cordovil, lisboeta de Alfama e Marquesa de nome de baptismo e não de honra nobiliárquica, que era mãe de um jovem cativo, em Argel, no Norte de África. A seu favor, invocava a Senhora de Porto Salvo, devotadamente. Até que, um dia, por premonitório incentivo de sua irmã, decidem ir, em romagem, à ermida de Porto Salvo, para, mais perto da Senhora, implorar protecção para o filho e - quem sabe? - o milagre da sua libertação.
 Já tarde, sobreveio um forte temporal, com grossa chuva e trovoada, que as reteve, a ponto de resolverem pernoitar no próprio templo. Por o lugar ser ermo, fecharam as portas e continuaram a orar. Eis quando, insistentemente, batem à porta. Surpreendidas, inquirem quem é e ao que vinha. Responde-lhes uma voz masculina, dizendo que era o filho da Marquesa Cordovil e que queria rezar a N. Sª. de Porto Salvo para agradecer a graça de o ter liberto do cativeiro.
 De facto era mesmo o filho da Marquesa. Trazia ainda as grilhetas e os pratos e dinheiro que seu patrão lhe dera para a compra de peixe para a ceia. Contou que, no caminho para o mercado, uma Senhora lhe pegara na mão e “o pusera naquela mesma noite, às horas que o viam ali às portas de Nossa Senhora”.

Source
MIRANDA, Jorge Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras , Câmara Municipal de Oeiras, 1998 , p.19
Place of collection
Porto Salvo, OEIRAS, LISBOA
Narrative
When
16 Century,
Belief
Convinced Belief
Classifications

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