APL 1349 Varas do Espírito Santo
Naqueles séculos a população de S. Jorge tinha as suas desavenças e abusos de todo o género. Os padres pregavam penitência e humildade e anunciavam castigos de Deus, mas o povo não se emendava. E certo que havia gente temente a Deus e cumpridora dos Seus Mandamentos, mas também é certo que por uns pagam os outros.
No primeiro dia de Maio de mil oitocentos e oito, a ilha foi abalada por uma violenta explosão vulcânica. O castigo para os pecados tinha chegado.
O fogo rebentou na freguesia de Santo António, elevando pedras incandescentes a grandes alturas e fazendo correr a lava como uma ribeira lenta, mas caudalosa, em direcção ao mar. As pessoas rezavam e choravam, impotentes, perante a violência do fogo. Muitas, desorientadas, corriam a refugiar-se sem encontrarem abrigo.
Um religioso franciscano, de apelido Malagueta, o guardião do seu convento e mais padres seculares, cheios de fé, saíram em procissão, levando um deles a coroa do Império da Vila das Velas, dentro de um quadro formado por varas do Espírito Santo.
Foram seguindo pelas ruas, cujas casas estavam condenadas a ser destruídas, até que se aproximaram do lugar onde vinha chegando o fogo.
Nesse momento arremessaram as varas ao chão, formaram com elas uma espécie de ribeira ou caminho que conduzia ao mar. Com tanta fé fizeram este gesto que logo o fogo recuou e, seguindo o caminho traçado pelas varas, foi-se precipitar no mar.
A população, chorosa e pasmada de medo e admiração, agradecia ao Espírito Santo e muitas promessas lhe fizeram por os ter livrado do perigo. Assim se começaram a fazer outros impérios e a distribuir mais esmolas aos mais pobres por ocasião das festas do Espírito Santo.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.186
- Place of collection
- Santo Antão, CALHETA DE SÃO JORGE, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)