APL 982 O pote da sopa

Era uma vez um pedinte que uma grande chuvada apanhou de noite no meio de uma aldeia. Para fugir da chuva, bateu à porta de um lavrador. Este foi abrir e o pedinte perguntou se, pelas almas, lhe podia dar dormida no palheiro e, já agora, se lhe arranjava uma malginha de sopa para aquecer. O lavrador mandou entrar o pedinte e mandou-o sentar junto à lareira para secar a roupa molhada. Depois pediu à mulher para arranjar uma malga de sopa. Ela disse que não tenha sobrado nenhuma da ceia e que só
tinham pão para lhe dar.
O pedinte então disse que, se o autorizassem, ele próprio faria um caldinho ali mesmo. A mulher arranjou-lhe um pote de ferro e o pedinte foi-lhe pedindo os ingredientes: um jarro de água, três batatas, um punhado de farinha, um fio de azeite e uns olhinhos de couve. Ali esteve a cozinhar a sopa enquanto o lavrador, a mulher e os filhos, sentados à volta, lhe perguntavam coisas sobre a vida e ele ia respondendo.
Pronto o caldo, pediu uma malga e uma colher e foi comendo. Viram-no encher sete vezes a malga e da última ficou o pote vazio. Os filhos e a mulher foram entretanto deitar-se e o lavrador, porque o pedinte se molharia novamente se saísse fora da casa para ir para o palheiro, resolveu deixar o homem ali ficar, junto ao borralho da lareira.
– Deus lhes há-de pagar em dobro – disse o pedinte, aconchegando-se em cima do escano.
No dia seguinte, quando a família acordou, não encontrou o pedinte. Em vez dele, estavam na lareira dois potes cheios de sopa a fumegar e pronta a comer.

Source
AA. VV., - Literatura Portuguesa de Tradição Oral , Projecto Vercial - Univ. Trás -os-Montes e Alto Douro, 2003 , p.CE4
Year
2000
Place of collection
Lixa Do Alvão, VILA POUCA DE AGUIAR, VILA REAL
Collector
José Leon Machado (M)
Informant
Maria de Lurdes Rodrigues (F), 64 y.o., Lixa Do Alvão (VILA POUCA DE AGUIAR),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography