APL 220 Lenda da Senhora dos Mártires de Castro Marim
Na vila de Castro Marim, também chamada de Moiraria, passou-se mais uma lenda. Diz-se que um cristão, detentor de uma vida péssima cheia de perseguições, foi preso em Arzila, no norte de África.
Dizia-se não haver pior tratamento do que o que este cristão sofria. Tinha sido comprado em Almeria por um mouro infiel, que o maltratava com receio de que o cristão fugisse. Depois de muitas voltas dar à cabeça para encontrar uma maneira de o guardar, mandou fazer um caixão muito forte e nele foi posto o cristão. A sua insegurança era tanta que mandou amarrar-lhe com uma forte corrente, os pés e mãos.
Finalmente, não contente com isto, dormia em cima do caixão.
O infeliz escravo era alimentado a pão negro e água turva. Com tanto sofrimento invocava noite e dia a Virgem Soberana para que esta o livrasse de tão dura escravidão.
O caixão estava em terra, mas muito perto da água e, um dia, enquanto o mouro dormia, o caixão foi apanhado pela maré cheia e navegou no mar alto durante três dias.
Já despontava a manhã do quarto dia, quando o caixão deu à costa. Os sinos do campanário começaram a tocar sem que ninguém lhes mexesse, pois todos ainda dormiam.
Quando o caixão encalhou na fina areia da praia, o mouro disse ao escravo:
- Cristão, que país é este? Na tua terra ladram os cães e cantam os galos ao despontar do dia?
Responde: o cristão:
- Esta é a minha terra, ladram os cães, cantam os galos, tocam os sinos.
Assombrado, o sarraceno, sem mais perguntas fazer, desprendeu-o das correntes e disse-lhe:
- Ergue-te cristão e perdoa-me. Até hoje eras meu criado, teu escravo sou neste dia.
O mouro foi baptizado com a água de uma fonte, aos pés da Virgem Santa onde, ao fim de sete dias, no meio das águas nasceu um freixo verde.
Desde então fitou conhecida a Virgem e toda a gente de Portugal e Castela ali acorria.
- Place of collection
- Castro Marim, CASTRO MARIM, FARO
- Informant
- Maria dos Santos Correia (F),