APL 1238 Lenda do Senhor Santo Cristo

Naquele tempo antigo, havia umas freiras que viviam no Convento da Caloura, mesmo à beira da rocha que dá para o mar, que se sentiam muito tristes, porque o povo de Água de Pau andava muito afastado da fé e do temor a Deus. As religiosas rezavam com fervor para que aquela população voltasse a ter fé e amor ao Senhor.
 Tinham esperança que, se houvesse uma imagem nova no Convento, talvez a atitude dos paroquianos se alterasse e despertassem de novo para a fé. Escreveram uma carta a sua Santidade o Papa, pedindo-lhe a imagem que tanto queriam, mas que não tinham dinheiro para comprar. O pedido das religiosas não foi atendido, porque na altura não podia ser.
 As freiras ficaram muito tristes, porém, não desesperaram e continuaram a rezar com fé.
 Estava-se numa época de pirataria nos mares dos Açores e aconteceu que, passando um navio ao largo da ilha, foi atacado e totalmente destruído por corsários.
 Muitos destroços do navio vieram dar à costa e, um certo dia, depois das freiras tratarem do jardim, foram descansar a olhar para o mar. Viram, na água, uma caixa perto da costa que brilhava muito e parecia ter uma luz lá dentro. Desceram a rampa a correr, puxaram o caixote, abriram-no e viram que era um lindo busto de Cristo, de olhar vivo, expressão humilde e serena.
 Acharam que tinha sido um milagre porque Santo Cristo, trazido pelo mar, tinha escolhido dar à costa ao pé daquela freguesia de S. Miguel, onde o povo costumava ser muito crente, mas que andava naquela altura muito afastado da igreja. Quando o povo de Agua de Pau tomou conhecimento do acontecimento, ficou muito feliz.
 A fé dos habitantes da Vila cresceu, a fama dos milagres de Santo Cristo espalhou-se por toda a ilha. Desde então Santo Cristo passou a ser a esperança e o apoio de todos os micaelenses.
 Durante anos, Santo Cristo foi venerado no Convento da Caloura, mas as freiras, que sofriam constantemente os ataques dos piratas vindos pelo mar, por aquele lugar da costa ser de fácil acesso, fugiram e foram refugiar-se em Ponta Delgada, no Convento da Esperança, levando consigo a imagem, onde ainda hoje se encontra.
 Nos nossos dias a fé no Senhor Santo Cristo não se perdeu, está cada vez mais viva, como se pode ver nas festividades e principalmente na linda procissão que se faz em sua honra, no quarto domingo de Maio.
 

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.61-62
Place of collection
PONTA DELGADA, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography