APL 530 Lenda da ponte do cunhedo
Quem hoje vai a pé de São Cristóvão para Oliveira de Frades ao atravessar o Vouga sobre a grandiosa ponte secular do Cunhedo, não faz ideia das dificuldades e medos de quem por ali passava nos velhos tempos em que se atravessava o rio a vau. Antes da construção daquela ponte havia a juzante umas poldras (pedras altas de um ao outro lado do rio por entre as quais passava a água e por cima delas passavam as pessoas) e era de salto em salto que se galgava o caudaloso rio, arriscando-se a vida, pois um passo mal medido ou uma escorregadela lançaria o transeunte para a impetuosa corrente de água que o arrastaria para o abismo.
Os frades de São Cristóvão que mais se serviam dessa passagem nas suas constantes deslocações a Oliveira de Frades e os povos vizinhos, resolveram fazer uma ponte de madeira sobre essas poldras por onde poderiam passar até alguns animais.
Reza a lenda que num dia de rigoroso inverno o caudal do rio cresceu ameaçador, arrastando tudo à sua frente e a ponte foi levada na voragem. Naquela mesma noite escura e medonha, a cavalo no seu burrinho, um santo missionário que tinha ido em missionação aos povos do lado de lá regressando ao seu convento, alta noite, quando os irmãos já o não esperavam, pois verificaram que a ponte tinha ido com a cheia.
Admirados, perguntaram-lhe por onde tinha vindo, pois a ponte tinha sido levada. Respondeu-lhes que se assim era, só ao seu burrinho e a Deus podiam perguntar, pois ele até viera a dormir sobre a montada e não dera fé de nada.
Foi tido este caso como um grande milagre que atribuíram às suas orações ao mártir São Cristóvão que no seu tempo transportou o Menino Jesus aos ombros na passagem dum caudaloso rio.
- Source
- CRUZ, Julio Lendas Lafonenses , AVIZ / Clube de Ambiente e Património da Escola Secundária de Vouzela / ADRL, 1998 , p.8
- Place of collection
- OLIVEIRA DE FRADES, VISEU
- Collector
- António Gomes Beato (M)