APL 790 Já fui ao Céu em vida!
Havia antigamente em Castanheiro do Sul uma rapariga, chamada Natalinha, que era muito boazinha, muito trabalhadeira e muito devota. Só fazia o bem. Um dia, quando ia a passar numas escarpas, deu um grande tombo e foi aos rebolões por cima das pedras, que ficou inanimada.
Quando se pensava que estava morta, ela levanta-se muito lesta, como se estivesse com a maior saúde do mundo, e diz:
— Já fui ao Céu em vida!
Seguiu então para casa, onde morava com a sua madrinha, e, ao chegar lá, lavou-se vestiu-se, penteou-se, preparou-se muito bem preparada, depois escreveu uma carta madrinha… e morreu.
Ora, aquilo foi tudo pelo poder de Deus. Na carta pedia à madrinha que, se visse um pobre, lhe matasse a fome; se viesse nu, vestisse-o.
Enterraram-na no cemitério. Era um cemitério em que metade pertencia ao Castanheiro e outra metade ao Pereiro, que é já do concelho Tabuaço.
Mas ela tinha também uma grande trança que lhe chegava quase até aos pés. E com ela foi enterrada. Só que, um dia, passados tempos de estar enterrada, essa trança apareceu cortada e estendida em cima da campa.
Ficou tudo espantado. Aquilo não era coisa deste mundo! Muita gente passou a ir lá rezar, pois têm-na como santa. É a Santa Natalinha. Eu própria não quero morrer sem lá ir.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 , Fundação Museu do Douro, 2007 , p.202
- Year
- 2007
- Place of collection
- Tabuaço, TABUAÇO, VISEU
- Collector
- Alexandre Parafita (M)
- Informant
- Maria da Purificação Fernandes Ferreira (F), 76 y.o.,