APL 3264 Lisboa (8)
O rei D. Sebastião partiu para Castella, em 11 de dezembro de 1576. Dois dias depois (a 13) uma medonha explosão destruiu uma tercena que havia junto à egreja de Santos o Velho. Havia alli 250 quintaes de polvora (15:000 kilogrammas) e grande quantidade de trigo.
Ouviu-se o estampido a muitas leguas em redor, e tremeu o terreno a grande distancia, como se fosse um terramoto, fazendo hir pelos ares muitas moradas de casas, nas quaes pereceram muitas pessoas. Foram arrojadas a grandes distancias, pedras enormes e traves pesadissimas. O rio e o terreno circumferente ficaram cobertos de trigo.
Se D. Sebastião não tivesse partido, a sua vida corrêra grande risco, porque residia no palacio de Santos.
Miguel de Moura e sua mulher moravam em umas casas proximas às tercenas, que voaram com a explosão. Moura estava ausente, e sua mulher, na occasião do sinistro, estava vestindo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Todos julgaram que Brites da Costa voaria com as casas, ou que, devorada pelas chammas, nem vestigios d’ella se encontrariam; mas, com geral admiração, se achou debaixo dos entulhos, viva e sem a minima lesão, além de umas insignificantes contusões no rosto; e junto a ella a santa imagem, tambem intacta; e attribuindo-se este facto a milagre da Santissima Virgem, se ficou aquella imagem denominando Nossa Senhora do Milagre.
Foi em reconhecimento de tão grande milagre, que Moura e Brites fundaram o mosteiro de Sacavem; cuja obra principiaram logo no anno seguinte.
É este mosteiro da primeira regra de Santa Clara, do qual nomearam padroeira e tutelar a mesma Senhora da Conceição, cuja festa foi pelos fundadores ordenado que se fizesse no dia 13 de dezembro, anniversario do milagre.
- Source
- PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo IV, p. 317
- Place of collection
- Santos-O-Velho, LISBOA, LISBOA