APL 403 A Parteira
Dizem os velhotes que antigamente havia em Arruda dos Vinhos uma parteira diplomada paga pela Câmara e que tinha como obrigação assistir a todos os partos.
Certa noite, apareceu um homem numa carroça puxada por dois cavalos pretos. Pediu à senhora para ir assistir a um parto de uma mulher. A parteira não conhecia o homem, mas sendo paga pela Câmara, não pôde recusar.
Era noite, noite escura. Andaram uns mil metros e a parteira ia reconhecendo o caminho, por isso tinha a alma descansada. Perto das Corredoras perdeu o norte ao caminho, era como se viajasse por um país desconhecido.
A parteira desconfiou logo que deveriam ter entrado no alçapão dos mouros, porque nessa época toda a gente dizia que a Senhora do Monte era habitada por mouros.
Assistiu ao parto e viu nascer um belo rapaz louro.
Todos lhe agradeceram. Ela olhou em redor, reparou que era uma casa escura, com paredes de terra e nelas estavam pendurados diversos frutos de prata. Como recompensa pelos serviços, os supostos mouros deram-lhe um maço em ouro.
De seguida, a senhora meteu-se na carroça com o mesmo homem e em pouco tempo já estava à entrada de Arruda.
Algum tempo depois a parteira encontrava-se em Vila Franca de Xira e viu o homem que ela pensava ser o mouro que habitava a Senhora do Monte. Dirigiu-se a ele para perguntar pela senhora que havia dado à luz e ele desapareceu para nunca mais ser visto.
Mais tarde comentou-se que andava uma manada de vacas a pastar na Senhora do Monte. Todos os dias desaparecia uma e quando voltava já não trazia leite nenhum...
Diziam as pessoas daquela época que provavelmente a vaca era levada pelo mesmo alçapão por onde teria entrado a parteira e que lhe tiravam o leite para alimentar o bebé que havia nascido.
- Source
- CUNHA, Jorge da Criações do Génio Popular , Associação para a Recuperação do Património de Arruda, 1997 , p.63-65
- Place of collection
- Arruda Dos Vinhos, ARRUDA DOS VINHOS, LISBOA