APL 1230 A Sereia da Praia

No lugar da Praia, em Santa Maria, muito próximo do mar, vivia um pescador que tinha um filho já homem. Nas noites de lua cheia costumavam sentar-se fora da porta, viam o mar e ouviam, às vezes, uma voz muito bonita. O pai, questionado pelo filho, dizia-lhe que aquela linda voz era das sereias, mas que era preciso fugir delas porque costumavam enfeitiçar os homens com o seu canto e levá-los para o fundo do mar. Quanto mais o pai o avisava, mais o jovem sonhava com as sereias.
 Numa noite de lua cheia, não prestando atenção aos rogos do pai, o jovem caminhou para ouvir o canto das sereias de perto. A noite estava calma e a claridade de prata dava coragem ao jovem pescador, que se escondeu por detrás de um alto penedo, à espera que as sereias se aproximassem da praia.
 As horas foram passando sem que nenhuma aparecesse mas o seu doce cantar ouvia-se ao longe. Já cansado da espera, o pescador fez um esconjuro, dizendo:
 — Sereias de má ventura, já me estais a arreliar!...
 Ainda não tinha acabado de dizer estas palavras e já corpos alvos e muito lindos se começaram a aproximar da praia. Eram raparigas metade peixe e metade mulher, com cabelos ruivos, muito belos.
 A sua beleza e o cantar suave, assim como os gestos harmoniosos do seu dançar encantaram o jovem. Sem se poder conter, saiu do esconderijo e correu pela praia para apanhar alguma sereia. Mas elas, vendo um homem, fugiram com ligeireza e atiraram-se ao mar. Na confusão da corrida, uma deixou-se apanhar e, medrosa, começou a chorar e a espernear para se libertar.
 O pescador, desorientado, lançou um esconjuro e deu uma pancada seca na nuca da sereia para que sossegasse. Ela deixou cair as guelras e, quebrado o encanto, transformou-se numa linda mulher.
 O jovem não podia acreditar naquilo que os seus olhos viam e logo se apaixonou. Levou-a consigo. Passado pouco tempo, casou com a Sereia da Praia e foi viver para a Almagreira. Ainda hoje em Santa Maria vivem muitas pessoas da família da sereia, principalmente as lindas raparigas de cabelo vermelho da Almagreira.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.47
Place of collection
Almagreira, VILA DO PORTO, ILHA DE SANTA MARIA (AÇORES)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography