APL 2317 Lenda das sereias
Informante: Eu ouvi esta lenda contada por muita gente, já faz tempo, muita gente contava que existia sereias. Então sereias era metade mulher, metade peixe e então havia aqueles barcos que iam para o mar alto para pescar. E então, iam e nunca mais voltavam e ninguém sabia o que é que se passava.
Colector: Eram náufragos?
Informante: Nem apareciam assim só…
Colector: Desapareciam?
Informante: Desapareciam, desapareciam, desapareciam de coiso… Então cada vez que lá ia um barco a pescar nunca tinha volta. Então, descobriram que era um… descobriram que era as sereias que existiam naquela zona que existiam no mar cada vez que os pescadores passavam ali nos barcos elas punham-se logo, aquelas lindas mulheres, elas não mostravam a parte de baixo que era rabo de peixe mesmo. Então, era aquelas lindas mulheres de cabelos compridos, eram autênticas mulheres da cintura para cima. Com aqueles longos cabelos, lindos olhos, e então punham-se lá ao fundo a acenar aos pescadores. Ora, os pescadores já se sabe! Ficavam todos encantados nas sereias. Depois elas tinham um canto, que era um cântigo que elas tinham que atraia… aquele cântigo ao longe, já eles ouviam quando vinham no barco, para elas serem avistadas elas punham-se a fazer aquele cântigo e eles ouviam aquilo, aquilo atraia o barco até elas e eles iam. E então, elas faziam aquilo para que… para eles caírem naquela zona havia um grande remoinho no mar que os barcos quando caíam já não tinham solução, afundavam e morriam todos.
Colector: Então elas faziam de propósito para eles morrerem?
Informante: Faziam de propósito. Para eles morrerem. Diz que apareciam ali aquelas lindas sereias, que eles nem sabiam que eram sereias pensavam que eram mulheres que andavam ali. Ficavam parvos, ficavam atraídos por aquela beleza de mulheres que os barcos em vez de seguirem o rumo que levavam trocavam de rumo e iam direito ao tal remoinho, onde elas punham a atrai-los. E eles assim que chegavam perto do remoinho pronto já não tinham controle no barco e morriam e elas desapareciam. Quando eles chegavam perto delas elas desapareciam, já não existia mulher, sereia, nem nada.
Colector: Pois eles caíam no remoinho…
Informante: Caíam no remoinho e pronto. E até que foi descoberto o que era.
Colector: Então e sabe como é que descobriram?
Informante: Eu acho que foi depois… tantos barcos desaparecerem assim e não voltarem, houve uns pescadores umas pessoas mais pronto… com mais inteligência que foram ver o que havia de passar todos os barcos caíam ali onde o rumo que eles deviam tomar não era para ali, estás a perceber? Tinham outro rumo para ir pescar.
Colector: E desviavam a rota por causa delas?
Informante: Exactamente. Desviavam a rota porque o cântigo delas atraía-os para lá e eles iam atraídos naquilo. E então, foram para coiso e pronto… e foi esse cântigo… eles iam já preparados para o que acontecesse e então quando começaram a ver que havia já quem falasse em sereias do mar não sei quê… então acho que quando elas começaram a fazer esse cântigo muitos já estavam atraídos para irem para lá… e então os mais espertos, mais coiso… taparam os ouvidos para não ouvirem o cântigo, porque se eles tapassem os ouvidos e não ouvissem o cântigo já não eram atraídos. E então, alguns tapavam, aqueles que levavam a direcção do barco, tapavam os ouvidos até passar aquele sitio, era só até passar aquele sitio. Taparam os ouvidos para não ouvirem e o barco passou e não foi atraído até lá. E assim o barco conseguiu escapar, os que escaparam viram o que é que tinha acontecido porque viram ao longe aquelas sereias e elas lá estavam. Eles já estavam a querer mudar o rumo do barco mas, houve alguns que pronto… surgiu-se-lhes essa ideia, que estavam a ser atraídos e então, inventaram ter de tapar os ouvidos para ver se… e aconteceu que pronto deu resultado. Eles taparam os ouvidos, não ouviram o cântigo delas e então o barco foi sempre andando no rumo certo. E assim, ficou a lenda das sereias.
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
- Year
- 2007
- Place of collection
- TAVIRA, FARO
- Collector
- Vânia Fernandes (F)
- Informant
- Maria Fernandes (F), 42 y.o., born at Monte Gordo (VILA REAL DE SANTO ANTÓNIO),