APL 1286 Lagoa Seca

Há muitos anos atrás, havia uma freguesia chamada Lagoa Seca que ficava para os lados das Furnas. Um certo dia, em que a freguesia estava em festa e todos se divertiam em danças e folguedos, uma mulher já velha do lugar precisou de ir buscar água à fonte.
 Quando lá chegou, viu que alguma coisa estava diferente: a água corria quente e com areia.
 Ficou muito assustada e apressou-se a avisar o povo, mas nem o próprio marido a acreditou. Continuaram a divertir-se e não se aperceberam que o céu escurecia como se fosse de noite. A velha, cada vez mais aflita, tentou convencer o marido a fugir com ela, dizendo-lhe que ia haver um grande castigo. Não conseguiu demovê-lo e, lamentando-se e a chorar, abandonou o lugar sozinha, andando o mais depressa que podia.
 Depois de percorrer algumas centenas de metros, olhou para trás e viu, com horror, que o lugar onde antes era a sua freguesia, a sua casa, as casas dos vizinhos, as terras, estava agora todo coberto por água, formando uma lagoa.
 Voltou logo para trás e reparou que uma coroa e um ceptro do Espírito Santo eram arrastados pela ondulação até à borda da água. Aproximou-se mais, pegou nos objectos e estava tão desorientada que não sabia o que fazer. Mas, ao olhar bem para a Pomba do Ceptro, viu que ela se inclinava para o lado de Ponta Garça e resolveu dirigir-se para lá.
 Andou tão depressa quanto pôde, pois estava sozinha, triste, e medrosa. Ao chegar ao princípio da freguesia, muito cansada, parou em frente à ermida e reparou que a Pomba se voltava para o interior, como se lhe estivesse a dizer onde devia ficar. Entrou e sobre o altar colocou a Coroa e o Ceptro. Ainda hoje lá estão, na Ermida da Senhora das Mercês em Ponta Garça. A freguesia da Lagoa Seca deu lugar à bela Lagoa das Furnas.