APL 119 Sobre as origens da Ilha da Madeira

Sobre as origens da Ilha da Madeira, contaremos aqui duas breves lendas. Uma delas, de cariz religioso e popular, refere-se ao culto mariano, enquanto a outra, de raízes eruditas, padece dos vícios de «quem conta um conto...»
 
 Assim, em certo recuadíssimo dia, a Virgem Maria no céu desfiava as contas do seu rosário de ouro, ao mesmo tempo que pensava, cheia de amargura e tristeza, no mal que os homens faziam na terra, somando desmandos com cobiças, crimes de toda a espécie, desgostando, naturalmente, o Senhor Deus. E, assim pensando, brotaram-lhe dos formosos olhos sentidas lágrimas. E cada lágrima foi uma estrela mais no firmamento que constituía o seu manto azul.
 Porém, uma lágrima escapuliu-se do destino celestial das suas irmãs, deixando-se escorregar sobre a imensidão sem fim dos mares da terra. E ao tombar nas águas, o sol rasgando as nuvens para mostrar sempre no céu o azul puro de Nossa Senhora, a lágrima transformou-se em maravilhosa pérola. Pérola que foi achada pelos portugueses que demandaram o ignoto — a Ilha da Madeira.

 A lenda erudita já indica que a origem da Ilha da Madeira está na lendária Atlântida, ilha maior ainda e de que Platão já falara, situando-a diante da passagem chamada de Colunas de Hércules. Era esta ilha maior que «a Líbia e a Ásia reunidas. E os viajantes podiam dela passar para outras ilhas, e destas alcançar todo o continente, na margem oposta do mar, que recebeu o nome de Atlântida».
 Plínio, o Velho, chamava Ilhas da Fortuna a um arquipélago atlântico de que tomou conhecimento e Arnóbio crismou-o de Ilhas Afortunadas. Há ainda quem as designe de Bem-Aventuradas, quando ao viajar fique surpreendido pelas suas belezas naturais e pela riqueza das suas vestes de permanente gala.
 Com o correr dos séculos, muitos homens têm andado em busca da Atlântida. Uns encontram sinais de civilizações antiquíssimas e apontam-nos como rasto de atlantes. Mas a Atlântida estaria, assim, em toda a parte da Terra?
 No entanto, o povo da Madeira sabe que a Atlântida existiu e que, pela altivez dos seus habitantes, os deuses a sumiram no seio das águas que a rodeavam. A Madeira teria deste modo ficado no mundo como marco a assinalar à posteridade a realidade daquela antiga terra e o respectivo castigo divino.

Source
MOUTINHO, Viale Lendas e Romances da Ilha da Madeira , Editora Nova Crítica, 1978 , p.9-11
Place of collection
FUNCHAL, ILHA DA MADEIRA (MADEIRA)
Narrative
When
20 Century, 80s
Belief
Some Scepticism
Classifications

Bibliography