APL 534 A lenda de são macário
Macário era filho de um rico castelão e tinha uma vida de festas e de prazeres. Ia muitas vezes à caça com seu pai e seus criados.
Num dia aziago em que perseguiam um javali e o avista, reteza o arco com toda a força e lança, precipitado, uma seta que se vai cravar no peito de seu pai que entrementes surgira detrás duma rocha, matando-o.
Desesperado, louco de dor, deita a correr por vales e montes, gritando como um possesso: - Matei meu pai... Matei meu pai…
Nunca mais ninguém lhe deitou a vista na sua terra. Os seus julgaram-no morto de desgosto.
Roto e desgrenhado escolheu para se penitenciar um ermo em serra distante. O seu abrigo passou a ser uma grande lapa ou caverna que servira aos animais que dantes perseguia e matava.
Macário, pelo profundo sofrimento, pela renúncia a prazeres mundanos e pela oração, mereceu as graças de Deus.
Comia raízes e gafanhotos e nos dias de maior fome e frio, descia aos povoados como um pobrezinho a pedir esmola. Enchiam-lhe o bornal de pães e as brasas para o seu lume levava-as nas palmas das mãos sem se queimar. Todos lhe queriam bem e o tinham por santo.
Um dia em que seguia para o seu tugúrio com as brasas nas mãos, apareceu-lhe no caminho uma linda moça que lhe sorriu, o fez parar e ter lúbricos pensamentos. Era o Demónio. Logo as brasas lhe queimaram a mão e as lançou fora soltando um grito de dor e arrependimento. Recolheu à sua solidão e em jejuns e oração nunca mais o Demónio teve forças para o tentar. Morreu em santidade.
A serra onde se venera, em duas capelinhas, passou a chamar-se, do seu nome, fronte Magaio e hoje, Serra do São Macário onde no último domingo de Julho de cada ano acorreram os romeiros de toda a parte para rezarem ao Santo e apreciarem as maravilhosas paisagens que dali se divisam.
- Source
- CRUZ, Julio Lendas Lafonenses , AVIZ / Clube de Ambiente e Património da Escola Secundária de Vouzela / ADRL, 1998 , p.11
- Place of collection
- VISEU, VISEU
- Collector
- António Gomes Beato (M)