APL 512 Lenda de S. Macário

 Diz a lenda que Macário era um homem bom, mas pobre e tinha como profissão almocreve o que o obrigava a fazer grandes viagens.
 Um dia, numa das suas ausências, os pais dele, pensando que estaria em casa, vieram visitá-lo. Chegaram cheios de fome e frio.
 Em casa estava apenas a mulher de Macário. Ainda tinha restos de sopa que tinha feito para ela e pão e com isso matou-lhes a fome. Como estava frio e a lenha no era muita a ditosa senhora cedeu a sua própria cama aos sogros para que se aquecessem, enquanto ela foi buscar um molho de lenha.
 Sem que a esposa soubesse, entretanto Macário chegou de mais uma das suas viagens. Como não viu a esposa foi à cama onde se encontravam duas pessoas a dormir. Como a claridade era pouca no interior do casebre e cego com os ciúmes pensou que seria a sua mulher que dormia acompanhada por alguém. Puxou de uma faca e matou-os. Passado algum tempo a mulher chegou com o molho da lenha e grande foi o espanto de Macário. A mulher perguntou-lhe se os pais já tinham acordado e ele contou-lhe o que tinha acabado de fazer.
 Ficou tão arrependido que resolveu castigar-se, correndo montes e montes, sempre a pé e sozinho e jurou a si próprio que se um dia se fixasse em algum lugar seria num sítio bem alto, onde não vivesse ninguém e de onde pudesse contemplar a maravilha da Natureza em toda a volta e aí sim adoraria a Deus para o resto da vida.
 Esse local foi o monte de S. Macário que se situa na serra da Arada e actualmente pertence a três freguesias: S. Martinho das Moitas, Covas do Rio e Sul.
 Aí viveu pobremente, comendo mel, gafanhotos e répteis assim como rebentos de árvores.
 Diz igualmente a lenda que, para se aquecer, vinha à povoação mais próxima —Macieira — buscar brasas e as transportava na mão sem se queimar. Porém um dia, quando transportava as brasas, passou por uma pegureira (pastora) nova, olhou-lhe para as pernas, que por sinal eram jeitosas, e, nesse mesmo instante queimou-se nas mãos.
 A lenda não fala da sua morte.
 No local mais alto do monte foi edificada uma capela onde se venera o santo e cuja festa se realiza sempre no último fim de semana do mês de Julho.
 Mais abaixo, a cerca de trezentos metros de distância da capela referida, encontra-se outra que, segundo a lenda, era onde o santo vivia.

Source
AA. VV., - Baú de Memórias , Projecto Escolas Rurais, 1999 , p.49-50
Place of collection
São Martinho Das Moitas, SÃO PEDRO DO SUL, VISEU
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications
Types
ATU [931 A] Parricide

Bibliography