APL 1064 Uma grande pescaria
Frei Gonçalo vivia dias de grande preocupação. Os víveres estavam a escassear e, quer os fidalgos quer os lavradores, já começavam a achar que tinham dado o bastante.
Frei Gonçalo consumido e cansado de tanto pedir sentou-se junto ao rio, cabeça entre as mãos a pensar como haveria de sair daquela tão ingrata situação. Os homens sem comida não podiam trabalhar e havia ainda muito para fazer.
Um velho trabalhador, pedreiro de profissão, abeirou-se do frade, sentou-se a seu lado e meteu conversa.
A páginas tantas encheu-se de coragem e perguntou a Frei Gonçalo a razão de tanta tristeza. O frade entre desculpas de cansaço e dores por todo o corpo foi-lhe dizendo que tudo se devia à falta de alimentos para muito breve. O velho pedreiro pediu licença e perguntou se podia dar uma opinião. Frei Gonçalo soergueu a fronte e acenou em sinal de consentimento. O homem olhando o frade disse:
- Frei Gonçalo tendes na vossa frente a solução para algumas refeições.
Frei Gonçalo olhou para o homem, olhou para o rio, levantou-se, pegou no cajado, mexeu na água e disse:
- Trazei dois cestos de verga dos maiores.
Vieram os cestos e frei Gonçalo mandou que lhes atassem umas cordas e os lançassem bem para o meio do rio. Os trabalhadores obedeceram lestos. Passados alguns minutos os cestos foram retirados e, para espanto de todos, vinham cheios de grandes e gordos peixes.
Frei Gonçalo mandou que os assassem inteiros e que os comessem mas sem lhes danificarem a cabeça e a espinha dorsal.
Acabada a refeição juntou todos os restos — cabeça e espinha — e arremessou tudo ao rio para bem longe da margem. Ao entrarem na água de imediato se transformaram em bonitos, gordos e grandes peixes. Quem assistiu contou o que viu e quem ouviu contou, tendo chegado até aos nossos dias em forma de lenda.
- Source
- PATRÍCIO, António Lendas de S. Gonçalo e de Amarante , Paróquia de S. Gonçalo, 2009 , p.38-39
- Place of collection
- Amarante (São Gonçalo), AMARANTE, PORTO