APL 3201 [Os Amores de Pedro e Inês]

Conta-se que o palácio da Serra de El-Rei foi testemunha de um estratagema de amor de D. Pedro I, quando príncipe…
    Ali descansava a família real, dedicando-se a Corte aos prazeres venatórios que existiam avonde na região. E o príncipe que, nessa altura, já não podia calar os gritos da profunda paixão que lhe queimava a alma e ardia na ansiedade de se encontrar com Inês de Castro — que, durante as ocasiões de veraneio, residia no paço do Moledo, a pouco mais de uma légua de distância —, vá de cavalgar, a ocultas da noite, vencendo a distância que o separava da bem-amada. O rei seu pai, avisado de tais surtidas, proibiu-as terminantemente. E foi então que D. Pedro, aconselhado pelo amor e no temor de ser descoberta a sua desobediência, se lembrou de um subterfúgio só possível num coração enamorado: mandou ferrar o cavalo às avessas para, na hipótese de se tornarem notadas as pegadas da cavalgadura, só existirem provas de uma vulgar caminhada do Moledo para a Serra...
    Como D. Pedro fazia para, ao regressar ao paço real, não deixar no caminho as pegadas do cavalo ferrado ao contrário (o que, por isso mesmo, denunciaria uma caminhada da Serra para o Moledo…), não o conta a lenda. Mas podia muito bem ser que, durante o colóquio nocturno, algum serviçal fiel voltasse, pacientemente para a posição normal, as ferragens da cavalgadura e assim se repetisse por cada noite que D. Pedro visitasse D. Inês…