APL 1237 A legião de Demónios e a ilha de S. Miguel
No princípio do segundo quartel do século quinze, os marinheiros que tripulavam as naus de Frei Gonçalo Velho Cabral, aproximavam-se da ilha dos Açores a que hoje chamamos S. Miguel. A alegria a bordo era grande porque estavam perto de uma terra verdejante e prometedora, muito maior do que aquela até agora conhecida.
O primeiro lugar onde desembarcaram foi no ilhéu de Vila Franca.
Uma vez aí, disseram missa e, logo que acabou a celebração, ouviram, aterrorizados, muitos gritos ameaçadores, acompanhados de vozes que diziam:
— Esta ilha é nossa, nossa é!
Era uma legião de demónios que reclamava, furiosamente, a posse da ilha contra a imposição do nome do Arcanjo, que pouco depois havia de ser dado à ilha.
Como homens destemidos e determinados que eram, os marinheiros não recuaram perante o aviso amedrontador. Acostaram, desembarcaram com as provisões que traziam e lançaram-se a arrotear. Adoptaram logo para a maior ilha dos Açores o nome de S. Miguel e colocaram-na sob a sua protecção.
Trabalharam muito dedicadamente e a terra começou a produzir frutos, a tornar-se numa ilha próspera e bela, onde a força dos demónios nada pôde contra a determinação dos portugueses destemidos e do protector S. Miguel.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.61
- Place of collection
- PONTA DELGADA, ILHA DE SÃO MIGUEL (AÇORES)