APL 358 A cana verde

Numa aldeia perto de S. Pedro do Sul existe uma casa, que tem um brasão de origem moura.
 Diz o povo que viveu nessa casa um nobre chamado Hazabar, já idoso, simpático para as gentes da aldeia, que trazia sempre na mão uma vara, de aparência velha e escura. Com ele vivia um velho serviçal, lá da aldeia, chamado Matias, que era seu amigo e confidente. Um dia este disse-lhe:
 -Senhor Barão, porque é que o senhor não deita fora essa cana, pois por causa dela o senhor serve de chacota para toda a gente da aldeia...
 -Deixa, meu fiel amigo, que um dia fica tudo sabendo que esta cana, um dia, será outra vez nova e verde e eu um rapaz jovem e belo.
 O empregado calou-se e não se acreditou no Barão, pensando que aquilo seria da velhice.
 Algum tempo depois, quando acompanhava o velho Barão no seu passeio à beira-rio, aconteceu uma coisa muito estranha. Uma linda princesa, montada no seu cavalo, acompanhada por uma aia ainda mais linda, com grandes cabelos negros e olhos verdes. O Barão, estava espantado a olhar para as moças e espetou a cana no chão. Para grande espanto do serviçal a cana, que era velha e negra, começou a ficar cada vez mais verde e viçosa e, quando se lembrou de olhar para o velho Barão, viu-o transformado num belo jovem, que lhe disse:
 -Eu não te disse?
 Como o velho serviçal continuava de boca aberta a olhar para o Barão este disse-lhe:
 -Depressa arreia os cavalos temos que ir atrás daquela bela aia, pois ela é uma moura que me foi prometida há muito tempo e sendo assim há uma grande fortuna enterrada, que só há-de ficara descoberto no dia em que eu me casar com ela.
 E lá foram atrás da aia. Chegaram ao castelo de um Rei português, ao qual o Barão pediu a mão da aia. O Rei concordou, com uma condição: que eles fossem baptizados. Ora vós sabeis que os mouros não eram baptizados e o Barão ainda hesitou, mas a sua paixão pela aia era tal que fez com que ele concordasse.
 No dia do casamento, ao serem baptizados, a aia moura morreu de imediato e quando caiu no chão já estava velha e negra; o Barão começou a envelhecer e a sua morte também veio logo a seguir.
 Como tinha sido seu desejo, o barão foi sepultado, mais a aia e a cana verde à sua beira, no sítio onde a tinha espetado no chão. Ainda hoje se diz que nesse lugar nem erva, nem árvore, nem flor nasce, que a fortuna ainda não foi descoberta e que, certas noites de lua grande, se ouve o Barão a chorar pela sua aia.

Source
PINHO, Isabel Contos e Lendas da Serra Nostra , Câmara Municipal de S. Pedro do Sul, 1998 , p.17
Place of collection
São Pedro Do Sul, SÃO PEDRO DO SUL, VISEU
Informant
Manuela Martins (F),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography