APL 1955 O Encanto
Havia um palácio encantado que tinha tantas janelas como o ano tem de dias. Dizia-se que toda a gente que lá entrasse tinha morte certa porque o encanto matava tudo.
Naquela altura havia uma costureira que vivia com a mãe e andava à procura de casa. Disseram-lhe que nas condições requeridas havia apenas aquela.
Apesar do aviso, como não tinha outra, aceitou ir morar para lá acompanhada pela mãe.
Passada a primeira noite, já o sol ia alto, e elas continuavam com a porta fechada.
Os vizinhos, apreensivos e sempre desconfiados, bateram à porta para se certificarem do que teria acontecido: se estavam vivas ou se teriam morrido.
A costureira apareceu à janela e, muito senhora de si, informou:
- Isto agora é tudo meu: casa e recheio, tudo me foi oferecido. Agora ando a dar voltas ao que cá está e não abro a porta enquanto não acabar.
E assim foi verificando o que havia e trabalhando para se governarem. Depois de tudo visto, concluiu que já não era necessário trabalhar mais. É que o encanto, uma grande serpente, tinha-lhe aparecido de noite quando a rapariga levava uma luz, apagando-lha.
Ela não se assustou e ia rezando o terço que trazia ao pescoço para que o réptil a não matasse.
Entretanto a serpente, dona do palácio, acabou por entregar tudo à costureira – libras, cordões e outras jóias de oiro - recomendando-lhe ainda que desse bem volta à roupa pois para cada janela encontraria sua colcha de seda. A seguir despediu-se para sair, dizendo:
- Adeus! Adeus! Adeus! Adeus! Até ao dia de juízo! Só tu, só tu é que me podias tirar daqui!
- Source
- AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
- Place of collection
- Ferro, COVILHÃ, CASTELO BRANCO
- Collector
- Maria da Ascensão Rodrigues (F)