APL 780 A alma penada no telhado
Havia aí numa casa duas irmãs. Uma casou muito bem, com um velhote que tinha bôs bocados. A outra não. Ficou uma pobre. Conhecíamo-la como a Ana Rata. Tínhamos que andar sempre a ajudá-la. Uns davam-lhe uma pinguinha de azeite, outros davam-lhe um cobertor. Era uma desgraçada.
Até que um dia morreu. Pensávamos nós que tinha ido finalmente morar p’ró melhor sítio que havia. Mas não. Passado coisa de meio ano, apareceu a infeliz em cima de um telhado. Ali mesmo, na casa da Alexandrina, que era minha vizinha. Quando a vi naquele telhado, por pouco não me deu alguma. Diz-me então ela:
— Ó Maria, não me salvas?
E eu:
— Então não estás em bô lugar?
— Não. Peço-te que me faças uma esmola grande. Devo seis missas e não as pude pagar!
Chamei então uma outra mulher que, em vida, também lhe dava de vez em quando um caldinho, e, juntas, lá fomos ouvir as seis missas. Nunca mais aquela pobre alma apareceu.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro - Narrações Orais (contos, lendas, mitos) Vol. 1 , Fundação Museu do Douro, 2007 , p.192
- Year
- 2007
- Place of collection
- Tabuaço, TABUAÇO, VISEU
- Collector
- Alexandre Parafita (M)
- Informant
- Maria da Purificação Fernandes Ferreira (F), 76 y.o.,