APL 1787 [A Lenda da Moura Floripes]

Nas proximidades de Olhão e perto do armazém do Senhor Fonseca existiu outrora um moinho vulgarmente conhecido pelo “Moinho do Sobrado”. Neste mesmo local e muito antes de ali ter sido construída qualquer habitação contemporânea das já mencionadas, existiu há muito tempo uma casa naquele mesmo lugar onde segundo a lenda, de uma das janelas deste edifício aparecia a altas horas da noite uma formosa mulher completamente vestida de branco.
 Porque constava então o aparecimento naquele lugar de tal mulher, ninguém se atrevia por isso a passar por ali àquela hora. Porém, segundo a mesma lenda havia um habitante daquelas redondezas que costumando embriagar-se com bastante frequência, costumava deitar-se sem qualquer receio defronte à casa onde aparecia a moura encantada como na lenda consta.
 Tendo-se gerado certo convívio e confiança entre os dois pelo que muitas vezes a moura encantada, chegando a sentar-se junto ao homem embriagado, com este brincava e lhe fazia meiguices.
 Mais tarde este homem acabou por contar confidencialmente a um amigo as aparições de que vinha sendo alvo, ao que o mesmo resolveu averiguar pessoalmente tudo aquilo de enigmático que pelo pobre alcoólico lhe fora relatado.
 Assim sendo uma noite resolveu sozinho deslocar-se ao local indicado e ali aguardar até que algo de surpreendente acontecesse.
 Quando já desesperado e farto de aguardar e resolvido a regressar a sua casa, eis que repentinamente diante dos seus olhos surge uma mulher completamente vestida de branco, pelo que então ele curiosamente se aproxima desta e lhe pergunta quem era.
 Sou a Floripes, respondeu ela com expressão triste.
 Que fazes tu então aqui?
 Sou uma pobre moura encantada deixada e abandonada aqui por meu pai que se viu forçado a sair desta província sem me poder avisar, quando a nossa raça daqui foi expulsa.
 Eu tinha um namorado que também fugiu desta terra nesta altura em que meu pai o fez e, desde então aqui fiquei a aguardar o regresso de meu pai para consigo me levar.
 Mais relatou ela que certa noite de vendaval viu que do Oceano se aproximava um barco trazendo uma luz à proa pelo que de imediato e muito contente pensou que seria o seu pai.
 Mas porque a noite estava tempestuosa e o mar se encontrava muito bravo, a embarcação desfez-se rapidamente contra os rochedos vindo ela a verificar que no naufrágio se afogara o seu namorado.
 Mais continua ela a referir que sabendo meu pai em África deste triste acontecimento e sabendo que não podia vir buscar-me, encantou-me de lá, através de artes mágicas.
 E o que é necessário para te desencantar, perguntou o homem penalizado.
É necessário que um homem me dê um abraço à beira de um rio, e me fira o braço ligado ao coração. Mas, o homem que me abraçar e ferir, tem de me acompanhar para sempre até à África.
 O sujeito ouviu atentamente esta resposta e vendo que o sacrifício era superior às suas forças e não a querendo desenganar totalmente, disse-lhe que ali voltaria em breve.

Source
AA. VV., - Tradição Popular Algarvia , Direcção Geral de Educação de Adultos, s/d , p.Lendas
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography