APL 1095 O medo do Pereiro
O Luís Manuel do Rei foi muito atentado. A casa dele é logo perto da casa do mê pai. Qu’ vinha de jogar as cartas, ia sempre jogar as cartas, ia sempre pra casa desse senhor do Brasil, do Júlio. Quando chegava a casa, ele tinha dois cachopos, a gaiata, desde qu’ chegasse a meia noite, era chorar, chorar, chorar, chorar sem parar e ele uma vez vinha d’jogar as cartas e viu assim como fosse um vulto, como fosse um vulto, não sei o quê qu’ era na rua.
Não. Ele primeiro foi pra casa, vinha de jogar as cartas e foi pra casa primeiro e depois daí a nada viu os chibos a berrar, o palheiro dos chibos era logo ali é pé da janela, em frente. E ouviu os chibos a berrar.
- Raios parta os chibos qu’ tão pra lá a berrar.
(Ainda não havia luz no Pereiro).
Alevantou-se e foi à porta e quando chegou à porta viu assim um vulto, uma coisa tão grande e avintou-lhe uma pedrada atrás daquilo. E aquilo qu’ abalou pra baixe e ele foi pra fechar a porta e qu’ foi difícil fechar a porta; qu’era ele a impurrar a porta pra um lado e aquilo p’é outro. E as cábras que continuavam a berrar e a cachopa chorava, chorava sem parar. Aquilo ficava a bater na porta, depois até quase de manhã cedo. Toma, toma, toma, na porta.
Teve qu’ ir a um benzilhão, a uma bruxa várias vezes.
Ele era muito atentado com aquilo. A cachopa até qu’nom chegasse aí as quatro horas da manhã, num sossegava. Estava magrinha, magrinha, magrinha com chorar. E dizem qu’foi pior o pai aventar a pedra atrás daquilo.
- Source
- HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros , Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.119-120
- Year
- 1990
- Place of collection
- MAÇÃO, SANTARÉM
- Collector
- Francisco Henriques (M)
- Informant
- Maria de Lurdes Pereira (F), MAÇÃO (SANTARÉM),