APL 1781 [O Encanto]

Outra vez foi a minha mulher que foi trabalhar e vem para casa mais a minha sogra e foram tirar água do poço que tínhamos lá da cozinha e o balde ficou preso e o que é elas fizeram? ah não queres vir para cima, agarraram delas e ataram o balde.
 No outro dia a Júlia lá em cima ouço ela estar dizendo: Está só a destapar a miúda, está só a destapar a miúda. No outro dia perguntei-lhe: Júlia, mas então o que era aquilo? Então você não sabe que aparece aqui um encanto? Eu não, eu não. Foi então que eu fiquei sabendo que naquela casa aparecia isso. No outro dia a loiça toda partida, toda despedaçada a mulher não fazia senão barulho e, no outro dia de manhã fomos a ver tudo dentro do guarda-loiça, tudo inteiro, como se não tivesse ninguém mexido. Este encanto era um homem e sempre que eu me levanto de manhã abria logo a porta do quarto e sentia aquele cheiro, aquele aroma e então uma ocasião eu estava no quarto deitado e era o meu filho Alexandre pequeno e ele estava a chorar, e eu disse: “mó”, mais então o moço não se cala? Bom, o moço lá se calou. Então e depois eu ia-me deixando dormir e ouço ao pé dos ouvidos “Pfu”, “Pfu”.
 Então pensei eu para mim, mas então o que é isto, se calhar é imaginação minha, mas eu tinha os olhos tão esperrados como tinha agora aqui, quando eu oiço um sopro ao pé dos ouvidos.
 Sabe o que eu faço? Alevanti-me, a minha sogra dormia da sala e sabe o que eu faço? Levi o colchão prá sala com medo.

Source
AA. VV., - Tradição Popular Algarvia , Direcção Geral de Educação de Adultos, s/d , p.Lendas
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Informant
Alexandrino Fernandes (M), Olhão (OLHÃO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography