APL 781 As dívidas da alma penada

Isto das almas que não têm sossego lá no outro mundo não é coisa para brincadeiras. Vou-lhe contar agora o que se passou com o meu segundo homem, que Deus tem, quando ainda era rapaz.
 Havia um sujeito que era também um pobre diabo, que não tinha onde cair morto, e que devia dinheiro a toda a gente. Um dia morreu. Morreu, mas passada uma temporada começou a aparecer de noite a certas pessoas aqui em Tabuaço. Andavam todos muito aflitos. Dizia o meu homem:
 — Mas será ele mesmo? Tanto dinheiro me ficou a dever em vida, e ainda me anda a tentar depois de morto?
 Foram então falar com o padre. E sabe o que o padre lhes disse? Que lhe perdoassem o dinheiro que lhes devia e que lhe mandassem rezar umas missas. Meu dito, meu feito. Aceitaram todos, e deixaram logo ficar lá, nas mãos do padre, o dinheiro para as missas.
 Foi remédio santo. Aquela pobre alma desapareceu de vez.