APL 1372 Uma águia de oiro e uma alma penada
Havia um homem dos Rosais que tinha emigrado para a América e lá tinha feito uma pequena fortuna. Ao voltar trazia algumas águias de oiro, que lhe garantiam uma vida desafogada e o respeito dos vizinhos.
Na altura era hábito o chefe de família guardar o dinheiro enterrado em panelas, escondido debaixo da cama, nos buracos das paredes ou em outro lugar que achasse seguro para que ninguém soubesse, muitas vezes nem sequer a mulher e os filhos.
O dito homem dos Rosais também tinha esse costume e uma vez escondeu uma águia de oiro num saco de trigo que estava guardado para semente, na sala de dentro da casa.
O tempo foi passando e o homem esqueceu-se onde tinha arrumado o dinheiro. Um certo dia lembrou-se da dita águia de oiro e, como não a viu, pensou que o filho lha tinha roubado. Acusou-o, tratou-o muito mal, mas o rapaz nunca lhe deu o dinheiro porque dizia que nem sequer tinha visto a moeda e muito menos lhe tinha tocado.
Passados poucos meses o homem morreu e algum tempo depois o filho foi tratar dos bois ao palheiro, à noitinha, como era costume. Estava a deitar as verduras aos animais e a arranjar a monda para lhes fazer a cama, quando, sem mais nem menos, lhe apareceu a alma do pai e lhe disse que a águia de oiro estava caída no serrado de trigo e que tinha ido ali parar quando tinham lançado a semente à terra. Pediu muito perdão e, sem que o filho tivesse tempo e forças de responder, aproximou-se da porta. O rapaz ainda ficou mais assombrado e medroso quando olhou para as costas do pai que ia a sair e viu que eram só lume. Benzeu-se e perdoou ao pai que andava penando no outro mundo por causa de uma águia de oiro desaparecida.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.209-210
- Place of collection
- Rosais, VELAS, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)