APL 3774 [A Moura do Rio Seco]
A gardener overhears conversation between Moorish maiden pleading with her father, before he throws and enchantment on her by throwing her in the river (Rio Seco). The father tells her that she can only be disenchanted if - on St. John's Eve (23rd June) - a man and a woman knead dough with water of that same river, bake cakes with the dough, come near the river to eat them and play by them throwing them at each other. The father then throws her in the river together with a treasure chest. On St. John's Eve the man does exactly as he heard from the Moor, the maiden is disenchanted and they receive the treasure.
Em outra ocasião estava um hortelão à espreita das lebres e coelhos que vinham à sua horta roer nas alfaces, quando ouviu umas conversas de pessoas ali perto. Era também noite alta, pois que a esse tempo ouviu as pancadas do sino do relógio da cidade, anunciadoras da meia noite. O fado que vou narrar deu-se ainda no tempo em que D. Afonso III estava em Albufeira em grande namoro com a filha do governador mouro daquela vila.
Reparou o hortelão cautelosamente nas pessoas que conversavam e conheceu perfeitamente que eram um mouro e uma infeliz moura.
— Perdoa-me, pai! — exclamava a jovem em soluços.
— Não posso, filha minha, e Allah sabe com que pena te aplico tão duro castigo.
E ao mesmo tempo começou a fazer sinais sobre a cabeça da filha, pronunciando umas palavras ininteligíveis e dizendo no fim:
— Aqui permanecerás encantada até que duas pessoas de sexo diverso amassem filhoses com a água deste rio, na vespera de S. João, e aqui as venham comer depois de mutuamente se terem atirado à cara com as mesmas filhoses. (sic)
E o mouro dizendo estas palavras atirou com a filha ao rio, lançando em seguida uma enorme caixa cheia de dinheiro.
Este rio, do que reza a lenda, é o mesmo hoje conhecido pelo Rio Seco, o que faz crer que naquela época ainda se não tivera secado de todo.
Na próxima véspera de S. João o hortelão e sua mulher, embora a esta fossem desconhecidas as intenções do marido, amassaram as filhoses com a água do rio, e junto do lugar do encantamento comeram as filhoses depois de se terem mimozeado com as mesmas, que mutuamente atiravam à cara um do outro.
Quando acabaram de comer as filhoses, apareceu-lhes uma linda mulher vestida de moura que lhes agradeceu reconhecidamente o seu desencanto, desaparecendo imediatamente.
Então o homem, que sabia nadar, atirou-se ao rio, e do fundo transpôs para terra uma caixa cheia de dinheiro em ouro.
- Source
- OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve , Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.154-155
- Place of collection
- Faro (Sé), FARO, FARO