APL 1565 [Os Figos na Fonte da Moura]
Em outra ocasião, continuou a velhinha quase cega, andavam uns meus vizinhos trabalhando na eira, muito perto da fonte da Moura…
— A fonte Cássima?...
— Não, senhor A fonte Cássima fica aí em baixo, a uns cinquenta metros, a fonte da Moura fica ao lado e tem a aparência de um bajanco… Como ia dizendo, um dos trabalhadores veio buscar água à fonte Cássima e passou defronte da fonte da Moura a uns cinco metros. Viu então expostos ao sol numa esteira belos figos. Estranhou que em Junho já houvessem figos ao sol e aproximou-se da esteira para se certificar. Apanhou uns cinco e meteu-os nos bolsos. Neste momento reparou então que à entrada da fonte estava uma mulher vestida de moura, que lhe disse: apanha, apanha, apanha... O meu vizinho assustou-se e pôs-se a correr em direcção da eira, onde contou aos companheiros o que lhe sucedera. Como duvidassem, ele tirou dos bolsos os figos, mas só encontrou cinco carvões.
— É notável! — observei na minha ingenuidade.
— Dele foi a culpa, porque se ocultasse o que tinha visto, em vez de carvões encontraria cinco peças de ouro.
— E isso há muito tempo?
— Teria eu aí uns cinco anos, e eu tenho setenta e nove.
- Source
- OLIVEIRA, Francisco Xavier d'Ataíde As Mouras Encantadas e os Encantamentos do Algarve , Notícias de Loulé, 1996 [1898] , p.p. 72
- Place of collection
- LOULÉ, FARO