APL 3659 A cristã cativa e o mouro

Conta-se que no penedo do Outeiro do Crasto, na aldeia de Travassos, vivia um mouro encantado, que todos os dias, para cumprir o seu encanto, tinha que percorrer a distância entre o penedo dos Murmurais, Crasto e S. Domingos. E nestes passeios, encontrava sempre uma pastora da casa dos Cervos de Travassos, por quem se apaixonou.
    Como a pastora não lhe ligava, um dia o mouro raptou-a, levando-a para dentro do penedo, onde não havia porta nem jinela. A família procurou a moça por toda a parte, mas não a encontrou. Até que um dia uns pastores, que andavam com a rês perto do penedo, ouviram lá dentro bater um tear. Desconfiaram logo que ela estava cativa do mouro e puseram-se a vigiar o penedo. De nada adiantou, pois nunca conseguiram ver nem o mouro nem a menina.
    O mouro, para cumprir o seu encanto, só saía de noite e com palavras mágicas que a menina não entendia mas que abriam e fechavam o penedo. E assim passaram os anos. Depois a menina teve um filho do mouro, mas as saudades da sua família eram muitas e por isso vivia muito triste.
    Um dia, o mouro descuidou-se a dizer as palavras mágicas e ela conseguiu entendê-las. Ao sair dizia:
    — Abre-te, César!
    E o penedo abria-se. Depois dizia:
    — Fecha-te, César!
    Numa noite, fingiu que dormia e esperou que o mouro saísse do penedo. Depois vai ela com o menino ao colo e diz:
    — Abre-te, César!
    O penedo abriu-se e ela fugiu para sua casa, onde os familiares a receberam com alegria, mas muito preocupados pois eram cristãos e a criança era doutro sangue. Quanto ao mouro, assim que regressou e viu o penedo aberto, ficou muito aflito. E ao ver que sua amada tinha desaparecido com o filho, endoideceu e começou a vaguear pelos montes, dizendo:
   
— Penedinhos do Castro,
Penedinhos dos Murmurais,
Penedinhos de S, Domingos,
Porque não vos arrasais?”
 
    Até que um dia desapareceu de vez. Então a menina, como sabia que dentro do penedo havia uma grande fortuna, foi lá com a família buscá-la num carro de bois e ficaram todos muito ricos.

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.300-301
Year
2001
Place of collection
Covelães, MONTALEGRE, VILA REAL
Informant
Ana Barroso (F), 70 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography