APL 3728 Lenda de Vale Frechoso
Em Vale Frechoso, do concelho de Vila Flor, existe na encosta de um monte um lugar cheio de mistério, formado por grandes penedos de granito, e onde há uma abertura que conduz a uma cova profunda. Diz o povo que, na altura em que os mouros deixaram esta terra, encantaram ali uma moura que ficou a guardar as suas riquezas. E conta-se também que os pastores costumavam ir para lá apascentar os seus rebanhos e que ouviam um tear a trabalhar, o que os deixava cheios de medo. Por isso deixaram de ir com o gado para aqueles lados.
Ora, numa ocasião houve um pastor mais corajoso que resolveu lá ir a ver que tear seria esse. Era então meia-noite. Pôs-se à escuta e, não tardou, ouviu o tear a trabalhar. Abeirou-se mais do local e, de repente, eis que lhe aparece uma linda donzela com seis pedras de ouro na mão. Ela estende-lhe a mão e diz:
— Podes voltar sempre que quiseres pois sempre encontrarás as seis pedras de ouro. Mas não podes contar a ninguém. Eu sou uma moura encantada e, se fizeres como te digo, ajudar-me-às a quebrar o encanto.
O pastor, que era pobre, começou então a enriquecer. E as pessoas da terra, a dada altura, começaram a falar, e obrigaram-no a dizer onde andava a arranjar a riqueza. O homem, viu-se de tal modo apertado pelos vizinhos, que resolveu contar-lhes tudo.
Por isso, na noite seguinte, ao voltar ao local, em vez das seis moedas de oiro habituais o que encontrou foram seis carvões e a moura lavada em lágrimas, que lhe disse:
— Desgraçaste-me! Jamais serei desencantada!
Conta o povo que, nesse local, quando alguém passa por volta da meia-noite, continua a ouvir um tear a trabalhar.
- Source
- PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.349
- Year
- 2001
- Place of collection
- Vale Frechoso, VILA FLOR, BRAGANÇA
- Informant
- Filomena Morais da Costa (F), 48 y.o.,