APL 3115 Lenda da cobra com cara de mulher

Em tempos muito antigos, andava um certo lavrador a trabalhar numa terra junto às muralhas do castelo [de Ansiães] quando ouviu um ruído estranho lá dentro. Primeiro não deu grande importância, pois julgou ter sido o cão que o acompanhava, mas passado um bocado voltou a ouvir o mesmo ruído. Chamou então pelo cão e, como este não veio, interrompeu o trabalho e foi lá ver o que se passava.
Entrou no castelo, procurou por todos os cantos e não achou o cão. Até que, por artes sabe-se lá de que demónio, lhe apareceu na frente uma grande cobra com cara de mulher e a fazer-lhe sinal para fosse até ele. E que bonita ela era!
Só que o homem, com o susto que apanhou, não saiu do sítio. A cobra então desapareceu. Depois quando o lavrador já se ia embora, a cobra aparece-lhe de novo, a tentar enroscar-se-lhe nas pernas para que ele a seguisse. E agora é que o lavrador já nem hesitou. Foi tanto o medo, que desatou a correr para casa.
Quando lá chegou, muito aflito, diz-lhe a mulher:
— Tu que tens, homem? Que é que se passou?
O homem contou-lhe o sucedido e ela, mais fina que ele, logo lhe disse:
— Ah, seu burro! Devias ter seguido a cobra! À certa, queria levar-te a algum tesouro!
O homem, depois de se refazer do susto, bem se arrependeu da sua fraqueza. Todas as noites sonhava com a cobra e todos os dias ia ao castelo na esperança de a voltar a encontrar. Mas nunca mais a viu. Viveu até ao resto dos seus dias a lamentar o sucedido.

Source
PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 , Fundação Museu do Douro, 2010 , p.221
Year
2002
Place of collection
Selores, CARRAZEDA DE ANSIÃES, BRAGANÇA
Informant
Rosa Vaz (F), 45 y.o.,
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography