APL 207 Do Castelinho

Havia uma mulherzinha, que vivia no Castelinho, freguesia de Santa Clara a Nova, concelho de Almodôvar, que estava a coser as meias do seu marido, sentada ao sol que aquecia muito.
 De repente, apareceu-lhe uma senhora que dizia ser sua vizinha, pedindo-lhe lume.
 A mulher ficou muito admirada e surpreendida, pois não conhecia ninguém naquele local e, muito menos, qualquer vizinho.
 Depois de muita conversa, a senhora, que era moura, disse-lhe:
- Ó vizinha, venha conhecer a minha casa que fica aqui perto. Verá como vai gostar!... Eu tenho mesmo muito gosto em oferecer-lhe a minha casa e mostrar-lha.
 A mulherzinha, levada pela curiosidade levantou-se e foi. Pelo caminho, as duas mulheres continuaram conversando e a certa altura, a moura disse-lhe, segredando-lhe ao ouvido:
- Não se admire de nada do que veja nem tenha medo de nada e principalmente não fale em Deus!
 Quando chegaram junto da casa da moura, entraram e a mulherzinha viu tudo muito bem visto, “obsequiou” tudo e notou que tudo ali era em ouro, prata e cobre. Notou ainda, que a casa era debaixo da terra, mas não disse nada.
 Quando a mulherzinha já tinha visto tudo muito bem, a moura disse-lhe:
- Agora vamos ver o meu marido, mas não se assuste com nada do que vir!
 Conforme a moura abriu a porta do quarto onde estava o marido, que era metade homem, metade lagarto, a mulherzinha exclamou toda assustada e instintivamente sem pensar:
-Ai, valha-me Deus e Nossa Senhora!
 A moura muito triste e chorosa, apenas lhe disse:
- Ai. Minha tirana! Encantaste-me por mais cem anos. Dobraste o meu encantamento!...
 De repente, fez-se um grande escuro.
 A moura toda chorosa, veio trazer a mulherzinha à porta de casa e ao fim de três dias, morreu.

Source
GONÇALVES, António J. Monografia da Vila de Almodôvar , Associação Cultural e Desportiva da Juventude Almodovarense, s/d , p.130
Place of collection
Santa Clara-A-Nova, ALMODÔVAR, BEJA
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography