APL 3706 A mina da moura
Perto do caminho que vai dar a Moreiras, há uma mina onde há muitos, muitos anos, habitava uma linda mourinha, filha de um mouro rico que, por ela lhe ter desobedecido, a encantou para nunca mais.
Conta-se no povo que, nas madrugadas de S. João, a mourinha sentava-se na relva do outeiro, e punha-se a pentear os seus longos cabelos com um pente de ouro e pedras preciosas, ao mesmo tempo que entoava uma cantiga triste. Ora, como era festa de S. João, o povo passava a noite toda a saltar a fogueira, a comer, a beber e a bailar, até altas horas. E no regresso a casa os caminhos enchiam-se de gente. Gente que evitava ir pelo atalho do outeiro, onde se ouvia o canto da moura encantada, porque todos tinham medo de sofrer também algum encanto.
Diz que, quando algum homem sozinho passava junto ao outeiro, a moura costumava perguntar:
— Diz-me cá: qual é mais bonito, o pente de ouro e pedras que o meu pai me deu, ou eu que aqui falo contigo?
Ora, os homens ficavam de tal modo deslumbrados com a beleza da moura, que lhe respondiam sempre:
— Bô?! A senhora é muito mais bonita!
— Então o que preferes levar? O pente ou eu? — tornava a moura.
Perante as duas hipóteses, a ambição dos homens levava-as sempre a escolher o pente. Era o pior que podiam dizer, pois dobravam-lhe o encanto. E por isso, há quem diga que ainda hoje ali continua encantada, à espera que alguém lhe quebre o encanto.
- Source
- PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.334-335
- Year
- 1999
- Place of collection
- Lebução, VALPAÇOS, VILA REAL
- Informant
- Maria da Graça Gomes (F), 54 y.o.,