APL 3697 A moura encantada de Adeganha

No antigo castelo de Adeganha [concelho de Moncorvo] existia uma passagem subterrânea que depois foi tapada. Lá dentro, ficou uma jovem moira que os cristãos haviam raptado e ali encerraram. Era tecedeira e tecia fios de ouro. Pelo tempo fora, a moura ali ficou encantada.
    Um dia, um pastor andava por ali, guardando as cabras. Subiu ao cimo das ruínas do castelo e espreitou por um buraco. Viu umas escadas e desceu por elas. Começou a ver ouro, muito ouro. De repente, assustou-se e voltou a subir, cheio de medo. Ouviu então uma voz dizendo:
    — Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
    Era a voz da moura, lamentosa, que ali continuaria, encantada, pelos tempos fora, O encanto só podia ser quebrado por alguém que ali fosse à meia-noite do dia de S. João.
    E foi o que aconteceu. Um outro pastor, que guardava ovelhas, deixou perder uma delas que entretanto parira. Foi procurá-la de noite. Subiu ao castelo para ver se escutava os balidos da ovelha e da cria. De repente, espreitou pelo buraco. E lá dentro, viu uma toalha branca, de linho, cheia de figos secos. E que apetitosos!...
    Desceu, e foi encher os bolsos. Depois foi à procura da ovelha. Encontrou-a junto ao castelo, presa em umas silvas e acariciando o cordeirinho. Então meteu um figo à boca, mas era de ouro. Os figos eram todos de ouro fino Ouviu então um barulho leve, como de avezinha, e uma palavra cheia de ternura e felicidade:
    — Obrigada!
    Era a moura que voava, livre, para junto dos seus. O encantamento havia sido quebrado. Ficou da história uma quadra que o povo de Adeganha continua a cantar:

“Aqui está Adeganha,
Toda ela engalanada!
Ao cimo tem o castelo
Com sua moira encantada!”

Source
PARAFITA, Alexandre A Mitologia dos Mouros: Lendas, Mitos, Serpentes, Tesouros , Gailivro, 2006 , p.329
Year
1999
Place of collection
Adeganha, TORRE DE MONCORVO, BRAGANÇA
Collector
Júlio Andrade (M)
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography