APL 1422 Lisboa Nova

Há anos atrás, na Fajãzinha das Flores, acartava-se a lenha para queimar do mato, porque em baixo, ao pé das casas, não a havia. E que na altura toda a gente usava lenha para fazer o lume onde se fazia a comida ou então para aquecer o forno para cozer bolo e pão e para secar o milho. A noite metia-se também uns pauzinhos no lume para irem aguentando as brasas que davam um calorzinho à volta do qual se juntava a família e os vizinhos, que vinham fazer serão, principalmente no Inverno. 
 Uma certa vez, um rapaz da dita freguesia tinha ido buscar um feixe de lenha ao mato e vinha assobiando pela Ladeira abaixo, quando, distraidamente olhou para o mar e viu uma ilha, com uma cidade muito grande e bonita, como ele imaginava que seria Lisboa. Desviou os olhos por um momento e, ao voltar a olhar na mesma direcção, já não viu nada. Ficou tão espantado que passou o caminho o mais depressa que pôde e quando chegou cá baixo, ofegante, só podia dizer:
 — Vi Lisboa Nova! Vi Lisboa Nova ali por baixo do Portal, no mar.
 Mas não foi novidade para as pessoas mais velhas que muitas vezes já tinham visto a ilha encantada no mar, onde vive D. Sebastião. Disseram-lhe então que ela costumava aparecer sempre, quando a noite de Natal era numa sexta-feira, e que se alguém fosse lá nessa noite a ilha ficaria desencantada para sempre. A partir de então todos começaram a chamar à ilha encantada Lisboa Nova.
 O rapaz sonhou o resto da sua vida em desencantar a ilha, numa linda Noite de Natal, mas nunca conseguiu e por isso ainda lá está Lisboa Nova, encantada no mar, por fora do Portal, na Fajãzinha das Flores.

Source
FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.271-272
Place of collection
Fajãzinha, LAJES DAS FLORES, ILHA DAS FLORES (AÇORES)
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography