APL 2295 O Pego do Santo

Do lado esquerdo da estrada que vai da Aldeia Nova para Mértola, encontra-se uma malhada, chamada de S. Nicolau.
 Na dita malhada estão uns casarões com a forma de uma arramada (= estrebaria) de bois, com cerca de quinze metros de comprimento e seis de largura.
 Estes casarões dizem que eram a cavalariça dos cavalos de um homem que esteve ali degredado. Em frente da malhada está uma igreja, que era onde o degredado ia ouvir missa; hoje já não é igreja, é apenas a casa da cruta.
 Dizia o Tio Guerreiro do Nicolau que foram uma ocasião uns caçadores à caça lá para a malhada e nesse tempo ainda existia um santo na igreja. Um desses caçadores ia muito levado do diacho e pegou no santo às escondidas e meteu-o dentro da mochila de um dos companheiros. E abalaram todos para a caça.
 Todos os companheiros viam coelhos e perdizes, mas o tal que levava o santo não via nem um laparote diante de si. O homem andava zangado mesmo deveras. Ao meio-dia foram jantar a um vale chamado Vale da Lameira. Quando a quadrilha se juntou, todos puxaram pelas suas mochilas e tiraram as suas peças de caça. O tal, que levava o santo, quando abriu a mochila e viu a peça de caça que trazia dentro, disse:
 — Oh! lá! oh! lá, cá está você... por isso eu ainda hoje não matei nada... Pois, espera ai, que eu já o arranjo!
 E pegou no santo e deitou-o dentro dum pego de água que estava no meio do vale.
 Os companheiros todos se fartaram de rir. Um deles disse
 — Este pego agora chama-se o Pego do Santo.
 — Está bem… está bem... — respondeu toda a quadrilha.
 E ainda hoje é nomeado pelo Pego do Santo e assim será por toda a vida.

Source
VASCONCELLOS, J. Leite de Contos Populares e Lendas II , por ordem da universidade, 1966 , p.866-867
Place of collection
MÉRTOLA, BEJA
Informant
Manuel Francisco de Vargas (M),
Narrative
When
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography