APL 933 Coedo
Há, na freguesia de Adoufe, Concelho de Vila Real, uma pequena povoação chamada Coedo.
Segundo a tradição local, a sua existência remonta aos princípios da nacionalidade e tinha inicialmente o nome de Lavandeira, assim denominada porque nela havia muitas aves com esse nome: lavandeiras ou lavandiscas.
Os seus homens tinham fama de valentes. Aonde quer que chegassem, principalmente nas feiras e nas festas, de faias na mão e chapéus caídos sobre a nuca, logo se ouvia dizer, em surdina:
- Aí vêm os pimpões da Lavandeira! Cuidado com eles!
A sua fama chegou a Lisboa, à corte de D. Afonso III, que, nessa altura, andava em guerra com os Mouros.
Quando el-rei soube da existência desses homens destemidos, enviou lá um mensageiro, a fim de os convencer a irem, como voluntários, auxiliá-lo na luta contra os Mouros.
O mensageiro, ao chegar à Lavandeira, hospedou-se em casa do lavrador mais abastado e procurou informar-se acerca dos mancebos em idade de prestar serviço militar.
Depois, mandou tocar o tambor, para lhes dar a conhecer o convite de Sua Majestade.
O povo em peso juntou-se no Largo do Gago, para ouvir o que o ilustre visitante tinha para lhe dizer.
Então, o mensageiro leu pausadamente a mensagem de Sua Alteza que fazia apelo ao patriotismo e coragem dos lavandeirenses para se alistarem no exército e lutarem contra os Mouros.
Concluída a leitura, acrescentou:
- Quem estiver disposto a acompanhar-me para Lisboa levante o braço.
Mas todos fizeram ouvidos de mercador: nem um sequer levantou um dedo.
Julgando que não tinham ouvido bem, o mensageiro repetiu o apelo, com veemência:
- Homens e rapazes corajosos, a Pátria precisa da vossa ajuda. A sua independência está em perigo. Quem estiver pronto para lutar por ela dê um passo em frente.
Foi como se falasse para as paredes: ninguém se mexeu.
Então, o mensageiro real, vendo que ninguém se oferecia para o acompanhar, ficou furioso e gritou:
- Afinal, vós não sois homens nem sois nada. Ou antes, sois mas é uns cobardes. Estais com medo.
Mas o mensageiro tinha um defeito de articulação que não lhe permitia dizer o “m”. por isso, disse: Estais com êdo. A expressão, que causou o sorriso dos circunstantes, começou a ser aplicada aos lavandeirenses e, mais tarde, acabou por ser atribuída à própria terra, que, a partir daí, deixou de se chamar Lavandeira e passou a chamar-se Coedo.
E a prolação regional está de acordo com a lenda, pois o povo não pronuncia Kuêdo, como a grafia oficial justificaria, mas pronuncia Kõêdo, com a primeira vogal nasal, por influência do “m” que desapareceu na escrita, mas deixou a marca nasaladora, na fala.
- Source
- FERREIRA, Joaquim Alves Lendas e Contos Infantis , Edição do Autor, 1999 , p.129-130
- Place of collection
- Adoufe, VILA REAL, VILA REAL