APL 1507 Braga (2)

Pelos annos 555 era Theodomiro rei dos suevos, tendo a sua côrte em Braga. Adoecendo gravemente seu filho primogenito,  prometteu a S. Martinho Turonense abjurar o arianismo, se seu filho sarasse, mandando logo alguns ministros visitar o sepulchro do santo, levando-lhe varias offertas; mas voltaram e a molestia do principe continuava.
Então o rei deliberou dedicar-lhe um templo, e tornou a mandar os ministros, com maiores offertas, á sepultura do santo, para obterem alguma reliquia d’elle. Os ministros cumpriram as ordens do rei, e de lá trouxeram, como reliquia do santo, uma parte da sua capa.
Quando chegaram a Braga, saiu o rei a recebel-os com seu filho, já completamente restabelecido, grandes da sua côrte e grande multidão de povo, em respeito e veneração á santa reliquia.
O santo premiou logo a fé religiosa d’estes povos, que padecendo até então a molestia da lépra, desde logo se acharam livres d’aquelle contagio, que era geral no paiz.
Consta que no mesmo navio, que trouxe a santa reliquia da cidade de Tours (França) vinha um santo varão, de nação hungaro, chamado Martinho, que regressava dos logares santos da Palestina, onde tinha adquirido vastos conhecimentos nas siencias orientaes. Outros dizem que Martinho embarcára n’uma galé em um porto da Grecia, e se fizera de vela ao mesmo tempo que da França sahira o navio com a reliquia, chegando a Braga ao mesmo tempo que ella chegara.
Theodomiro, tendo noticia da sua virtude e lettras, se valeu d’elle para a conversão dos seus povos ao catholicismo.
Tinha Theodomiro já edificado nos arrabaldes de Braga, em um sitio chamado Dume, um templo da invocação de S. Martinho, que entregou ao virtuoso hungaro, que logo n’elle introduziu a vida monacal, e pouco depois foi elevado á dignidade episcopal. (Vide Dume.)
A conversão do rei ao gremio da egreja, trouxe em muito pouco tempo a da côrte e a de todos os povos, que com a maior facilidade abjuraram o arianismo.