APL 1831 A lenda do Menino Dos Olhos Grandes

Eu tinha ido ao cinema com a minha madrinha. E depois, quando viemos do cinema, era garota, era miúda, era pequena. E quando viemos do cinema íamos p’ra casa e mesmo na nossa rua, mesmo na nossa rua estava uma fábrica em construção, estavam acrescentando a fábrica.
E então vimos, entre as portas daquela casa, uma luz, duas luzes assim a luzir muito, a luzir muito, uma coisa que luzia muito. E eu fiquei assim assustada e perguntei para a minha madrinha, perguntei o que era aquilo. Diz a minha madrinha assim:
- Não ligues importância e segue o caminho, e segue o caminho.
 Mas eu ouvia chorar muito, muito, muito, muito. E aqueles olhos, aquilo pareciam dois olhos muito grandes, muito grandes que luziam, que luziam!
 Quer dizer, nós nunca chegámos a aproximar do que era, mas pessoas que se aproximaram e que viram realmente o que era, viram que era uma criança. Eu também realmente vi que era uma criança! Era uma criança, mas nunca chegámos bem, bem ao pé. Mas pessoas que se chegavam ao pé e que viam aquela criança a chorar, a chorar muito iam e pegavam na criança. Mas do que pegavam na criança tinham que pô-la logo no chão porque aquilo era um peso enorme! As pessoas não aguentavam o peso...
 Começaram então a dizer que era o menino dos olhos grandes que aparecia ali naquele sítio. E acho que apareceu pelos jeitos muito tempo, eu é que só naquela altura é que vi, tirando isso nunca mais vi.
 O que é certo é que eu vi...

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
Year
2000
Place of collection
Olhão, OLHÃO, FARO
Collector
Sandra Boto (F)
Informant
Maria Perpétua Lopes de Jesus (F), 67 y.o., born at Olhão (OLHÃO),
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography