APL 2100 O Menino dos Olhos Grandes

O pessoal da Fuseta aqui há uns anos, há p’ra aí uns..., isto já foi passado se calhar há uns setenta ou oitenta (oitenta não há; eu tenho oitenta e ele…) Eu era rapazota ainda quando ouvi isto até a gente andava assustada aí, a gente de noite nã’ saía com medo do menino dos olhos grandes. E a’tão aquele homem, que era mestre (tinha um barco e era mestre, parece que era), e ele ía a chamar a companha, batia à porta dos homens, dos tripulantes, e dizia:
 — Vamos com Deus.
 E os homens iam p’ro mar. Ma’ naquela noite, ele viu um menino a chorar muito, um menino, um menino, uma criança a chorar, e ele achou estranho. Aquilo já era de noite, achou estranho aquilo e foi direito ao menino e disse:
 — Então o que é que fazes aqui, o que é que ‘tás aqui sózinho?
 E o menino só a chorar, só a chorar, ele com dó disse-le:
 — Eu vou-te a levar à tua mãe diz lá aonde é que é a tua porta?
 E apega no menino e pôs-o ó colo p’ra ir a ver se ele dizia aonde é que era a porta da mãe. O homem nunca pensando mal e levava aquela criança, mas chegou a um certo ponto que o menino começou-le a pesar muito, a’tão a princípio era leve e depois já ele nã’ podia com a criança e pois foi quando ele assustou-se. Assustou-se e quando vai a olhar e viu uns olhos muito grandes e com o susto deitou-o fora, parece que foi assim, deitou-o fora e fugiu p’ra casa. Ele ía quai morto quando chegou a casa.
 Esta lenda passou-se com um senhor da Fuseta chamado ti’ Chené.

Source
AA. VV., - Arquivo do CEAO (Recolhas Inéditas) , n/a,
Year
1996
Place of collection
Fuseta, OLHÃO, FARO
Collector
Carla Santana (F)
Narrative
When
20 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography