APL 1078 A rolinha brincalhona

Quem já andou na escola, e mesmo quem nunca o fez, sabe a função utilitária desta instituição.
 Mas reconhece também, penso eu, o prazer que é faltar à escola, ir nadar, brincar, expandir-se, não ter que aturar, pelo menos durante um curto dia, o professor que aparece sempre como figura sinistra e ladrão das coisas boas da vida. Nem que à noite, ao chegar a casa, se pague por tudo isso.
 Quem assim também pensava era a rola, isto no princípio quando Deus a criou. Nessa altura tinha Deus um trabalhão desgraçado em ensinar toda aquela bicharada, a como se defenderem, como construir o ninho e outras coisas mais.
 A rola era muito brincalhona - por isso se diz, és mesmo uma rolinha -, só queria festa, faltava muitas vezes à escola, desprezava os bons conselhos do Divino Mestre, e então é o que se vê. Enquanto as outras aves fazem o ninho seguro, almofadado, com princípio, meio e fim, a rola junta meia dúzia de gravetos, dispõe-os em círculo sobre um tronco e pronto, já está.
 Agora chora lágrimas de sangue, mas já é tarde. Devido à insegurança do seu ninho perde com frequência os ovos ou os filhos.

Source
HENRIQUES, Francisco Contos Populares e Lendas dos Cortelhões e dos Plingacheiros , Associação de Estudos do Alto Tejo, 2001 , p.39
Place of collection
PROENÇA-A-NOVA, CASTELO BRANCO
Collector
Francisco Henriques (M)
Informant
Luis Henriques (M), PROENÇA-A-NOVA (CASTELO BRANCO),
Narrative
When
20 Century, 90s
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography