APL 3390 Pitões (2)

Houve antigamente no termo de Monte-Alegre, d’este arcebispado primaz, um mosteiro de Cister, chamado de Santa Maria de Junias, sujeito ao de Osseira, no bispado de Orense. Extinguiu-se no anno de 1608, e foi depois egreja parochial, sujeita ao ordinario de Braga. D’este mosteiro foi abbade D. fr. Alvaro, que depois de administrar o governo alguns annos, o demittiu de si, renunciando-o nas mãos do papa Alexandre VI, a favor do nosso fr. Gonçalo, seu parente em proximo gráu. Tomou posse d’aquella abbadia aos 5 de fevereiro de l499; sendo arcebispo primaz, D. Jorge da Costa, a quem veiu logo dar obediencia, por estar no limite da diocese bracharense. Tinha o abbade de Junias, duas annexas, uma no reino de Galliza, a que chamavam Santa Maria de Cella, e outra n’este arcebispado, a que chamavam S. Rosendo, ás quaes hia muitas vezes prégar e cumprir com as obrigações que lhe incumbiam, como prelado. Retirando-se de Cella, onde se tinha hido enterter em tão santos e caritativos empregos, e dizendo missa no caminho, em um domingo, vespera da Purificação de Nossa Senhora, n’ella lhe foi revelada a sua morte, como deu a intender aos assistentes, que foi d’esta sorte.
    Como na noite antecedente tivesse nevado em tanta quantidade, que estava a neve de altura de dois metros, principalmente na eminencia de um monte, no sitio a que chamavam Fonte Fria, chegou a elle tão debilitado, que não podendo resistir entregou a alma ao Creador, que querendo dar a conhecer ao mundo a santidade do seu servo, mandou repicar os sinos de Junias e Cella, por invesiveis mãos.
    Vendo os monges prodigio tão inaudito, se persuadiram que alguma desgraça havia succedido ao seu abbade, por occasião das neves.
    Ajuntaram quantidade de homens do logar de Pitões, para que abrindo-lhes caminho, pelas neves, podessem procurar o santo abbade, a quem enfim acharam, entre as neves, com o corpo exanime, de joelhos, e com os olhos e mãos levantadas ao Ceo, como achara Santo Antão, abbade, a S. Paulo, primeiro erimita da Thebaida.
    Confusos e admirados ficaram os monges com tão singular prodigio, e louvando todos o Altíssimo, porque permittiu tivesse aquelle seu servo semelhante morte, levaram o santo cadaver para o mosteiro de Junias, onde não cessaram os sinos de tocar, senão depois de o terem dado á sepultura, no 1.º de fevereiro de 1501.
    A cabeça de S. Gonçalo, que existiu, como já disse, na egreja de Pitões, e que desappareceu com um incendio, não deixou por isso de continuar a merecer a devoção popular, e a festa do Casco de S. Gonçalo, se continuou a fazer em Junias e em Osera, a 2 de outubro de cada anno.

Source
PINHO LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Portugal Antigo e Moderno , Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, 2006 [1873] , p.Tomo VII, pp. 107-108
Place of collection
Pitões Das Junias, MONTALEGRE, VILA REAL
Narrative
When
15 Century,
Belief
Unsure / Uncommitted
Classifications

Bibliography