APL 389 Nossa Senhora da Ajuda (1)
Diz o povo com devoção que certo dia andava uma pastorinha inocente e sincera a guardar algumas ovelhas num lugar hoje chamado Nossa Senhora da Ajuda, quando lhe apareceu uma Imagem muito bela e cheia de luz que lhe comunicou que seu pai devia erguer ali uma ermida em sua honra.
Foi então a pastora dizer a seu pai o que a Senhora lhe havia pedido, começando por dizer que lhe tinha aparecido uma Rainha do Céu muito formosa. O pai, que segundo dizem se chamava Afonso Anes, não acreditando no que a filha lhe dizia, chamou-lhe tonta e simplória. Perante esta situação de desconfiança por parte do pai, a filha calou-se.
No dia seguinte, lá foi a pastora com rebanho para o mesmo sítio onde havia estado anterior e de novo lhe apareceu a Senhora e disse-lhe, como da outra vez, que o seu pai devia erguer uma ermida naquele local. Mas, como no dia anterior, o pai da pastora não acreditou e injuriou-a.
Um novo dia surge e a cena repete-se, porém, o agricultor, como que inspirado pelo poder divino, pediu á menina que dissesse à Senhora que habitualmente lhe aparecia no campo que naquele lugar não havia água e portanto ninguém conseguia construir uma ermida sem água.
Ao ouvir isto, a menina correu ao monte e logo lhe apareceu a Virgem Senhora que foi informada do que o pai da pastora dissera. Este, que tinha seguido a filha, viu com clareza e admiração que a jovem pastora, ao levantar uma pedra, fez surgir um jorro de água muito clara e cristalina. Assim se cumpriu o desejo do pai da pastora.
Afonso Anes, sem conseguir falar e envolvido por forte entusiasmo, correu para a filha com os olhos cheios de lágrimas e abraçou-a com o coração repleto de fé e, no mesmo instante, agradeceu à Senhora o facto de ter escolhido a sua pastorinha como veículo da sua vontade. Já mais calmo, pediu perdão à filha por não ter acreditado nela logo da primeira vez.
Movido pela emoção, Afonso Anes trata logo de preparar tudo para que a ermida fosse construída o mais rapidamente possível. Como era natural da freguesia de S. Tiago dos Velhos, decidiu que ela fosse edificada nos limites dessa freguesia de forma a que não ficasse a fazer parte da freguesia de S. Lourenço, de Arranhó. Contudo, a Virgem apareceu mais uma vez e disse que a ermida devia ser erguida no lugar que ela havia indicado, a cerca de duzentos metros da fonte, e não onde o lavrador decidira.
E assim foi. Afonso Anes ofereceu o terreno e os outros devotos ofertaram os restantes materiais. Depressa se ergueu a ermida. No altar foi colocada uma imagem de pedra da Virgem Senhora com a evocação de Nossa Senhora da Ajuda que ainda hoje é adorada com fervorosa devoção.
Conta a tradição que desde essa altura nunca mais faltou a água naquele lugar abençoado pela Virgem Mãe de Jesus.
- Source
- CUNHA, Jorge da Criações do Génio Popular , Associação para a Recuperação do Património de Arruda, 1997 , p.32-35
- Place of collection
- Arranhó, ARRUDA DOS VINHOS, LISBOA