APL 1370 Zezinho no Matinho, égua no caminho
Há alguns anos, um homem dos Rosais, que vivia da vida do campo e da criação de gado, ia um certo dia para as vacas. Tinha os animais numa terra que ficava no Valado, ainda a uma distância grande de casa. A certa altura do caminho encontrou uma égua branca e, como já estava muito cansado, pensou em montar e ir a cavalo. Não estava por ali ninguém que o visse é assim ia chegar mais depressa ao seu destino.
Pensou-o e quis fazê-lo. Mas, quando tentou apanhar a égua, ela saltou para um matinho cheio de urzes e silvados que o impediram de se aproximar dela. Desistiu de a apanhar, mas, quando ele começou a seguir viagem, a égua saltou outra vez para o caminho e ele tentou apanhá-la. O resultado foi o mesmo: a égua, num salto rápido, pôs-se no matinho. E isto repetiu-se várias vezes, até que o homem se aborreceu mesmo e se foi embora à sua vida, dizendo:
— Fica-te prà aí com os diabos! Vou todos os dias a pé, hoje também posso ir.
Nunca mais se lembrou daquele acontecimento. Algum tempo depois teve que ir ao Pico em negócios, como era hábito então. Quase todas as semanas, homens do Pico vinham a S. Jorge comprar porcos, trigo e outros produtos. Da mesma maneira homens de S. Jorge atravessavam o Canal em barcos, muitas vezes de boca aberta, para irem ao Pico vender ou trocar produtos diversos.
Ora o dito homem dos Rosais estava no Pico e a certa altura ia pelo caminho adiante e ouviu uma voz que dizia e repetia:
— Zezinho no matinho, égua no caminho; Zezinho no caminho, égua no matinho!
O homem lembrou logo o episódio que lhe tinha sucedido com a égua e, compreendendo que se tratava de uma feiticeira, disse:
— Ó velhaca, eras tu?!
Ouviu uma gargalhada de troça e ficou furioso, mas não chegou a ver a feiticeira que estava a gozar com ele.
- Source
- FURTADO-BRUM, Ângela Açores: Lendas e outras histórias , Ribeiro & Caravana editores, 1999 , p.207-208
- Place of collection
- Rosais, VELAS, ILHA DE SÃO JORGE (AÇORES)