APL 3113 O ermo das bruxas
Há um sítio na aldeia de Zedes, do concelho de Carrazeda de Ansiães, que é conhecido por “ermo” e onde nenhuma erva nasce apesar de a terra ser boa. Dizem os antigos que aquele é o sítio da reunião das bruxas e que, por isso, a erva ali não consegue nascer.
Contava-se antigamente que as bruxas se vingavam daqueles que as apoucavam. Diz-se que certa ocasião uma mulher, a conversar com outras ao soalheiro, afirmou alto e bom som que se alguma bruxa se chegasse perto dela lhe faria isto e aquilo. Ora, nessa mesma noite, as bruxas roubaram-lhe um filho, ainda de berço, e levaram-no para o tal “ermo”, onde passaram a noite a jogar com ele de mão em mão. Daí em diante, a criança começou a definhar e disso morreu.
Contava-se também que houve um rapaz forte e valente, que andava sempre a dizer que não tinha medo de nada.
— Nem das bruxas do “ermo”? — perguntaram-lhe um dia.
— Elas que me apareçam e hão-de ver a que terra vão parar!
Nessa mesma noite saiu de casa como sempre fazia e, depois da meia-noite, ao passar no largo da aldeia atravessou-se-lhe um vulto preto que lhe pareceu um porco ou uma porca. E disse para consigo:
— Quem diabo terá deixado fugir este reco?
E pôs-se a correr atrás dele para o agarrar. Mas quanto mais corria, mais o animal corria também na sua frente. E tanto correu atrás que foi parar ao “ermo” das bruxas, onde encontrou outros porcos ou porcas à espera. Nesse momento, os animais puseram-se a correr em círculo à volta do rapaz, chamando pelo seu nome e rindo em altas gargalhadas.
Diz-se que o moço apanhou tanto medo que até fez o sinal da cruz a pedir ajuda a Deus. E ao fazer o sinal da cruz o círculo dos porcos desfez-se e ele pôde regressar a casa. Desde esse dia, nunca mais andou na rua fora de horas.
- Source
- PARAFITA, Alexandre Património Imaterial do Douro (Narrações Orais), Vol. 2 , Fundação Museu do Douro, 2010 , p.219
- Year
- 1999
- Place of collection
- Zedes, CARRAZEDA DE ANSIÃES, BRAGANÇA
- Informant
- Maria da Conceição Fonseca (F), 44 y.o.,